GARI: JUSTA HOMENAGEM

É bacana a Reportagem Especial do jornal 'Imprensa Livre' - (do Litoral Norte Paulista), na edição deste fim de semana (sábado e domingo), dias 18 e 19/05, em reportagem feita pela jornalista Thereza Filipelli, falando da importância do trabalho dos garis, e da forma  como essa profissão estigmatizada pela sociedade e que passa aos nossos olhos nus sem que percebamos - em tamanha invisibilidade social, com o título: "Eles Limpam, Você Suja". Me uno as homenagens ao 'Dia do Gari'. Na matéria há a narrativa de algumas histórias de garis da cidade. Recomendo a leitura. É bem isso mesmo, nós sujamos, eles limpam - e invariavelmente não nos damos conta disso.

Lendo o jornal comecei a recordar alguns episódios 
que marcaram a profissão com repercussão nacional

Quem não se lembra da atitude elitista e arrogante do jornalista Bóris Casoy, apresentador da TV Bandeirantes (ambos condenados judicialmente a indenizar um dos Garis), quando em 31 dezembro de 2009, apareceram dois garis numa vinheta com mensagem de fim de ano. Sem saber que o áudio estava aberto, o jornalista comentou com seus colegas: 
"Que 'm...': dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo da escala do trabalho". Repugnante.



Outro caso que me veio à mente foi o do gari carioca conhecido por Renato Sorriso, que se tornou uma figura popular do Carnaval  e personalidade da cidade do Rio de Janeiro, sendo sempre requisitado para entrevistas e programas de televisão. Ele diz que tudo começou em 1997, quando, ao invés de varrer a pista do sambódromo, ele começava a sambar atrás das escolas de samba. 
Depois de participar da novela “América”, da TV Globo, Renato agora faz carreira internacional. Fez sucesso na TV européia com o comercial da empresa de telefonia Orange, conhecida pela sua cor laranja. Renato visitou o Canadá para uma reportagem do Fantástico da Rede Globo, onde deu um depoimento emocionado à repórter Glória Maria. Em 2006, Renato participou do espetáculo “Brasil Brasileiro”, dirigido pelo coreógrafo argentino Cláudio Segovia, que percorreu a França, Espanha e Inglaterra, dividindo o palco com dançarinos profissionais experientes.

Me recordo de um outro caso: Há um bom tempo eu lia uma reportagem, salvo engano, no Estadão, era também um Caderno Especial, quando me apaixonei pela história vivida pelo prof° e Dr. em psicologia pela USP, Fernando Braga da Costa, que durante um bom tempo foi pra dentro do universo da profissão de gari, vestindo-se igual e, disfarçado, observava até mesmo o comportamento de seus próprios colegas de universidade em relação a sua presença como gari, sem que estes o tivessem reconhecido, tendo sido uma experiência tão impressionante que ele produziu de sua pesquisa um livro, o "Homens Invisíveis, Relatos de uma Humilhação". Vale muito à pena uma lida neste material, clicando -aqui-.
Há várias outras histórias que nos comovem e impulsionam, legado deixado por gente que faz, mesmo enfrentando as desigualdades e conflitos da vida, rompendo barreias do preconceito e afins, garis que encontraram fortunas e, mesmo precisando, devolveram o dinheiro; garis que se dedicaram a ler livros encontrados no lixo e se aventuraram a estudar e passaram em vestibulares importantes no país, enfim, a homenagem é mais que merecida e justa à esses brasileiros, nossos irmãos. Por outro lado, há uma comparação que não foi feita pela reportagem do jornal Imprensa Livre, mas que seria interessante, como os valores altíssimos pagos pelas Prefeituras às empresas por contratos de varrição e limpeza urbana, nunca traduzidos em salários dignos a esses honrados profissionais
Cabe a homenagem, e também a reflexão.

Fotos livres disponíveis no Google
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00h46min.     -     adelsonpimenta@ig.com.br

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