RELAÇÃO INSTITUCIONAL PETROBRAS E SÃO SEBASTIÃO: COMENTÁRIO DA LEITORA

Comentário da leitora, em destaque
Ref. as postagens sob pauta: 
Petrobras/Transpetro e São Sebastião/SP
Via Facebook
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Bom dia, Adelson 
Difícil debater esse tema com você. Mas, tentarei expor o meu ponto de vista sobre esse assunto polêmico e que já ganhou um contorno político, que não é dos mais tranquilos. Gostaria de fazer um breve retrospecto para lembrar o início da operação da Petrobras, em São Sebastião, na década de 60. Não sou tão antiga, mas já fiz matérias sobre o tema e lembro ter ouvido relatos dos moradores sobre o período complicado pelo qual passava a nossa cidade, no verdadeiro abandono. A construção da rodovia Rio- Santos e a diminuição drástica das operações no porto motivaram um grande êxodo de moradores para outras cidades a procura de emprego. Nós nos transformamos novamente em uma vila. Há quem goste de viver em uma vila ainda hoje, como há quem não queira que sua rua seja calçada. Mas, não é isso que ocorre com a maioria de nós, ou é? 

A chegada da Petrobras trouxe um novo alento, marcou o início de uma fase próspera e cheia de esperanças. A época marcou uma grande mudança na cidade, tanto na parte urbanística quanto no estilo de vida, com a chegada de trabalhadores de toda a parte do Brasil. A cultura caiçara ganhou novos contornos e assim caminhou a humanidade. Até que começam a surgir os problemas. Nas primeiras décadas, os vazamentos de óleo no canal ocorriam com muito mais frequência do que hoje. Era um caos, pois aliados aos problemas gerados ao meio ambiente, turismo e aos pescadores, a estatal permanecia muito fechada com relação à comunicação com a sociedade e a imprensa. 

Os anos passaram e é notório os ajustes que foram feitos. A empresa investiu em equipamentos, gerou novos postos de emprego voltados à área de segurança e passou a pagar uma quantia mensal ao município, que chamamos de royalties. Um tipo de seguro para ser utilizado em caso de acidentes. Afinal, trata-se de uma empresa que exerce atividade de risco, nada mais justo. O que ainda falta mudar é a qualidade na comunicação entre a estatal e a sociedade. Apesar dos anos, a estatal permanece um enigma para a maioria de nós. Sabemos que ela exerce um papel fundamental na economia do país e também da nossa cidade, mas não conhecemos as pessoas por trás do muro empresa, os gerentes são de outras cidades e permanecem pouco tempo por aqui. 

Além disso, quando o assunto é urgente quase sempre é preciso recorrer aos profissionais que ficam no Rio de Janeiro. É uma relação muito impessoal. Como ter um inquilino morando na sua casa, que paga o aluguel todos os meses, mas desconhecer o nome, a profissão e suas intenções? Um enigma que gera mil e umas indagações. Isso pode mudar, mas como em toda relação para isso acontecer não dá para ficar apenas discutindo o assunto do ponto de vista financeiro. A Petrobras precisa se aproximar da cidade, vivenciar as dificuldades dos seus moradores e poder propor soluções em parceria com o governo. Ela deve estar disposta a participar e ser ouvida de verdade, não apenas ser procurada para sacar o cheque e pagar a dívida. 

O governo, por outro lado, precisa estar disposto a entender a Petrobras como uma parceira e não apenas como a galinha dos ovos de ouro ou a imagem de todo o mal, amém! Entendo que a estatal, do ponto de vista financeiro, não tem dívida com o município. Pelo contrário. Há anos, o dinheiro pago com os royalties não é investido para o fim que se propôs, que é mitigar os impactos ambientais e sociais. Hoje, por falta de um planejamento de longo prazo, se transformou em nossa muleta para as necessidades mais básicas, desde saúde a educação. O que existe de fato é uma dívida moral. A estatal poderia sim estar mais presente na vida dos cidadãos, apoiando projetos culturais e sociais, como faz em outras cidades, inclusive festivais de cinema e de música. Com seu recurso humano e financeiro, imagino o quanto a Petrobras poderia contribuir com ideias, projetos e eventos para a nossa cidade. Tê-la ao nosso lado, de verdade, não apenas a sua contribuição financeira, seria sim uma grande riqueza. 

A arte da política é saber dialogar para chegar a um ponto em que todos saiam vencedores. Será que vamos conseguir deixar os rancores de lado e dialogar? Pergunto: Fazer birra vai resolver o problema? A Petrobras foi fundamental no passado para tirar a nossa cidade do ostracismo, situação em que muitos comércios se encontram hoje novamente. Não seria o momento de buscar renovar essa relação? Eu acredito sempre que toda história tem duas versões e que nada é impossível para os homens de boa vontade. Que a luz da discórdia se apague e dê início a uma nova época, para que o desenvolvimento volte a desembarcar na nossa terra em um mar calmo e com céu de brigadeiro.

Daniela Carvalho, jornalista, diretora de Comunicação da Câmara de São Sebastião/SP.
Foto: Memória Petrobras - site (escolha do blog)
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14h38min.     -     adelsonpimenta@ig.com.br

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