EX-PREFEITOS, 2 PEDIDOS DE CEI E O GOVERNO: AS PEÇAS DO JOGO SE MOVIMENTAM

Guerra de vaidades, rearranjo de forças políticas, busca de holofotes, cavas e cunhas sobre um assunto de elevado interesse popular, interesse sincero e tardio pela matéria, enfim, seja lá qual for a razão, a iniciativa é política. Os ex-prefeitos de São Sebastião/SP, ao menos para este caso - e oportunamente para este momento, se unem. Paulo Julião, Juan Garcia e Luizinho Faria querem - e vão ocupar a tribuna legislativa municipal para falar sobre a demolição do Centro de Convenções. Não tinha palco, quer dizer, palanque melhor.

Por um pedido providencialmente apresentado pelo vereador do PMDB, Gleivison Gaspar, a ação visivelmente orquestrada - e que é do jogo, acontecerá nos próximos dias, provavelmente. A reação política vem depois de o Prefeito da cidade, Ernane Primazzi ter ocupado a mesma tribuna para apresentar as razões pelas quais o Município celebrou um Termo de Ajustamento de Conduta - TAC com o Ministério Público pela demolição do Centro de Convenções. Importante lembrar que este o pedido da tribuna pelos ex-prefeito está precedido de um pedido de abertura de CEI feita pelo engenheiro Manuel Corte. Aliás, o mesmo cidadão acaba de protocolar na Câmara outro pedido de CEI, agora contra o vereador Ernaninho, por declarações que fez no uso da tribuna. Também foi encaminhado ao setor jurídico da Casa e aguarda Parecer. Pessoalmente acho não ter respaldo legal, mas, assim como no caso anterior, cria-se mais um fato político.

Está deflagrada uma guerra, ou seja, o tal do "revanchismo político". Tudo isso em período que antecede a eleição da próxima Mesa Diretora da Câmara Municipal, que conduzirá as pautas do Poder Legislativo no ano pré e no ano eleitoral.

Mas, há leituras políticas importantes à serem feitas. E apresento uma. 


Paulo Julião e Luzinho já governaram a cidade e, talvez, inspirados no sucesso do surfista sebastianense, queiram pegar a onda que o tema provoca. As pesquisas de opinião pública, segundo soube, registram um certo descontentamento em relação a política como um todo e um forte desejo pelo tal do "novo". Digo "tal", porque as qualitativas precisam encontrar sobre qual conceito se define esse "novo" pelo eleitor.

Na esteira dessa constatação os partidos precisam - e estão se reciclando, de maneira que nomes menos festejados e conhecidos deverão ser apresentados. É uma questão de sobrevivência ou insurgência contra o status quo. Os ex-prefeitos buscam ocupar espaço, recuperar lastro, aferir o prestígio. Essa é a construção de uma linha de raciocínio, há outras igualmente interessantes e que respeito. 

A oposição na Câmara é vocalizada por dois vereadores somente, sendo Gleivison do PMDB e Jair Pires do PSDB. No caso da demolição do Centro de Convenções, não só o vereador Jair, mas outros que compõem a base governista também mudaram o entendimento em relação ao assunto - apoiando o ato demolitório, logo após as explicações oficiais. Gleivison ficou falando sozinho. Juan, que conhece os atalhos e tem faro político, reagiu. 

O processo começou de fato há meia década, envolveu laudos técnicos; devolução de dinheiro ao Dade - órgão do Estado que financiou o projeto; bloqueio de bens; negativas de liminares judiciais contra a demolição; participação do MP/SP; balanço financeira sobre os custos da operação; enfim, e, em nenhum momento, até onde sei, os ex-prefeitos se manifestaram. Agora, às portas da próxima eleição municipal, eles voltam à cena, ainda que para isso tenham que se aliar ao ex-desafeto político destes. Faz parte do jogo.

Luizinho Faria, com este gesto, avança um pouco mais sobre a forma de atuação de seu aliado - o tucano Felipe Augusto, que se mantém em silêncio em relação ao assunto. Ao tomar partido na discussão, Luizinho risca o chão e tenta marcar seu quinhão nesse território de discussão política e deixa o tucano isolado. Se a tática for a de Felipe Augusto terceirizar o embate, o ex-prefeito estaria se permitindo diminuir seu papel político sobre o caso, penso eu, e não creio que seja o caso. O tucano é o único dos que tem pretensões eletivas reais para 2016 à majoritária que não fala absolutamente nada a esse respeito. Aliás, foge de um embate como o diabo da cruz, por uma questão estratégica, certamente. Hoje, por exemplo, Felipe Augusto não foi ao programa de rádio do jornalista Helton Romano porque não queria o modelo de confronto de ideias com o petista Fernando Puga. Luizinho, diga-se, apoiou Felipe Augusto na última eleição municipal e é chefe de gabinete do prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci, com quem Ernane mantém relação cordial. Se sua iniciativa for de vontade própria, uma das alternativas de reflexão seria de que tenta capitular o discurso de oposição, medir a temperatura disso e, quem sabe, se cacifar no processo com mais peso que o atual.

Paulo Julião está fora do cenário há algum tempo, certamente por opção pessoal, desde que tentou eleger-se vereador e foi reprovado nas urnas nas últimas eleições municipais. sofre adversidades importantes junto ao Tribunal de Contas, mas não perdeu o gosto pela coisa. faz política na miúda, e agora, pelo que percebo, vendo o cavalo encilhado, quer montar. Quem sabe daí não saia a projeção que precisa para tentar recuperar o espaço político perdido. Essa pode ser uma conta simples que faça também de olho no vácuo da oposição. Tanto ele quanto Luizinho se insurgem sobre um assunto antigo justamente quando o grupo político de Juan derreteu-se na urnas, como se vê na baixa transferência de votos aos candidatos que apoiaram nessa eleição.

Juan Garcia, que não tem nada com essa sanha de seus ex-adversários, mas que está envolvido até o osso do peito com todo o processo que envolve essa obra do Centro de Convenções, ganha de lambuja apoio político desse porte, e apoio assim não se nega, e vai à luta em sua intifada contra o Governo. De algum modo, os bastidores estão à toda prova e muita coisa pode acontecer doravante.

Ernane Primazzi, que pode ter sido subestimado pelos adversários no jogo eleitoral, tornou-se o único prefeito reeleito da cidade. Tentaram apeá-lo do cargo, mas a Justiça não permitiu. No entanto, ele não foi administrar de dia e pôr pijama  para dormir a noite; pelo contrário, foi jogar o jogo na linha de frente, se articulando junto as direções estaduais de alguns partidos políticos trazendo-os para sua base de apoio. Fez isso e lançou o filho, vereador Ernaninho para deputado estadual, enquanto mantém uma base de sustentação parlamentar importante na Câmara Municipal, e quer fazer o sucessor. Fazer tudo isso sem ser incomodado, não teria como. Imagino que também deva estar cuidando de conter o tiroteio que vem por aí. A reação dos adversários já deve ter sido um risco calculado. 

A oposição, que respira por aparelhos, ganhou unidade sobre um caso, mas, arrisco dizer, que a tentativa de desconstrução do discurso oficial pela demolição do Centro de Convenções representa mais que isso, quem sabe a própria sobrevivência política de cada um nesse jogo em que a população quer algo diferente, novo. Onde isso definitivamente vai parar e como cada um sobreviverá ao confronto, não sei, mas tenho convicção de que a eleição de 2016 começou muito antes de seu período legal.

É o jogo!
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15h10min.   -    adelsonpimenta@ig.com.br



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