PETROILHA: ABUNDA DINHEIRO E SUPERABUNDA PROBLEMA

Com que olhar deve ser visto o que se lê na matéria do jornal 'Costa Norte' desta semana? Aliás, palmas para a jornalista Marina Veltman para suas reportagens exclusivas. Luizinho Faria, homem forte do Governo de Ilhabela, assegura que os royalties do petróleo podem chegar a casa dos R$ 40 milhões por mês nos cofres municipais quando a Bacia de Sapinhoá estiver à toda prova. 

Hoje, segundo matéria, 70% da receita da Prefeitura é oriunda do mercado de petróleo. Ilhabela pode ser chamada perfeitamente de Petroilha. Mas, chamo a atenção para a experiência desses casos: Onde abunda os royalties, superabundam os problemas. Se as projeções otimistas feitas pelo experiente secretário se concretizarem, muita coisa precisará ser repensada.

 

Digo mais, ainda que o preço internacional do barril do petróleo não volte ao nível que já esteve, em referência percapta o Município ilhéu já se destaca por sua condição financeira. Todavia, é preciso ter cuidado, capacidade de gestão, visão empreendedora com responsabilidade e proteção social e, acima de tudo, planejamento e ordenamento, porque praticamente todas as cidades que passaram a receber volume alto de royalties de petróleo se tornaram dependentes dessa fonte de receita -, que é finita, não se preocupando com as demais oportunidades à cidade nem com o desenvolvimento sustentável desta. 

A favelização se tornou quase inevitável. Macaé é um dos muitos exemplos. Ilhabela tem problema sério de insegurança fundiária, saneamento básico, vagas em escolas, enfim. Estudos e análises sobre dados oficiais e indicadores sociais precisam ser feitos.

No caso de Ilhabela, que tem seu apelo de negócios voltado para o turismo, não deve ter impactos territoriais de adensamento das atividades de exploração e produção (impactos ambientais, custos de manutenção de rodovias e demais externalidades negativas ligadas diretamente a exploração do petróleo), o Município é confrontante e não produtor, mas já encontra problemas como influxos demográficos de trabalhadores, sobrecarga da infraestrutura local e crescimento da demanda de serviços públicos, por conta de outras atividades, e, neste caso, só a expectativa gerada pela notícia já produz impactos à serem mitigados.

A revista Metrópole Magazine (julho/15), por exemplo, repercute o gasto de R$ 989 mil dado pela Prefeitura para a Escola de Samba Unidos de Vila Maria que irá desfilar tendo a Ilhabela como samba-enredo. Até que ponto isso é necessário? Essa promoção do nome da cidade já é desempenhado pelo Ministério do Turismo, pelas várias campanhas publicitárias feitas na mídia - e o prefeito Colucci viajou fazendo tour em nome da cidade pelo exterior. Se tudo isso não foi suficiente, resta ver a estratégia de atração turística. A cidade tem um apelo natural. Mas, como conciliar isso com o crescimento urbano?

Outra coisa importante, o Governo tenta licitar os serviços de uma agência de publicidade e já teve que recuar e refazer as coisas por impugnações. Enquanto isso vai gastando sem que o controle social possa ser feito com desembaraço. Há falta de transparência nas informações sobre gastos com publicidade, por exemplo.

Tem estudos aos quilos, dos quais eu destacaria os produzidos pela UCAM-RJ, que demonstram e estratificam o desperdício de dinheiro de Prefeituras que avolumaram sua receita com essa fonte de arrecadação e como isso não se reproduziu em melhoria nos indicadores sociais e econômicos de qualidade de vida dos cidadãos munícipes. 

Longe de mim pensar que a Ilhabela vá fazer isso, ou seja, apostar sempre em medidas de populismo, de cunho meramente propagandístico como tem ocorrido atualmente, mas recomendo atenção da sociedade ilhabelense. Debatam, se aprofundem na matéria e exijam qualidade nos investimentos públicos. No ano que vem haverá eleição e os candidatos precisarão ser claros sobre o que pensam em relação a tudo isso e o seu povo.

É a minha resenha
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08h15min.    -     adelsonpimenta@ig.com.br  

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