INTERNET: (I)RESPONSABILIDADE NO USO

O desaparecimento e morte do menino Leonardo de Jesus, de 6 anos, em Juquehy, na costa sul de São Sebastião, comoveu milhares de pessoas e ganhou ampla visibilidade na internet, na busca por informações sobre o paradeiro do pequeno. 

O jornal Costa Norte desta semana traz uma matéria alarmante, inclusive com as considerações do Delegado de Polícia. Informações falsas e desencontradas atrapalharam a celeridade do trabalho da Polícia no encontro do corpo e fez do padrasto uma vítima agredida por moradores.

Declaração
Nos impressionou muito o poder de repercussão da informação sem origem, 
sem ser passada por um profissional jornalista. 
As pessoas tomam o dado de qualquer um 
como verdade e o repercutem, sem filtro”, 
alerta o policial.

Foto: Jornal CostaNorte

Intriga tanto a reação das pessoas, que virou caso de estudos. Especialmente, sob uma visão sociológica. Há alguns dias, eu assistia ao programa "Diálogos", exibido pela GloboNews, e o entrevistado era o Dr José de Souza Martins, sociólogo e professor da USP. Ele tem um trabalho de pesquisa e analítico importante sobre "linchamento" na sociedade brasileira, está inclusive concluindo um novo livro sobre o tema. Sugiro que assistam.

À partir de 2013, a média de linchamentos ou tentativa deste era de 4 por semanas, para 1 por dia. Estudos comparativos com outros países que lincham também, o Brasil lidera o ranking. No país, a questão tem um pouco a ver com a ordem social, o que estimula a população a fazer justiça com as próprias mãos, à partir de crimes horrendos. A população reage muito violentamente. Geralmente com motivações muito fortes. É uma "justiça conservadora" porque é praticada quando valores de tradição conservadora são feridos, como: "criança", "virgindade", a "família", essas coisas quando violada, a população reage contra o autor ou o suposto autor...", disse o especialista.

Pesquisas que são feitas rotineiramente garantem que o brasileiro, por mais unidades móveis que tenha comprado e usado nos últimos anos; por mais tempo que assume passar conectado na internet, o cidadão crê mais no que os sites de notícias informam que no que as pessoas colocam aleatoriamente. Há opções na rede, eu sou blogueiro e sei disso, mas, confessadamente, há muita gente dizendo bobagens, semeando o ódio, propagando boatos maledicentes, enfim.

Tudo isso é verdade. 

Mas, isso não significa que as redes sociais  estejam povoadas somente por gente que publica ou compartilha o que bem entende - sem checar a confiabilidade de suas fontes, quando não por maldade mesmo. Pior: há quem creia nisso também, e isso gera problemas importantes. Pelo contrário, há canais sérios de diálogo e conhecimento na internet. É preciso que o internauta crie seus filtros.

A Lei 12.965/14, conhecida como o Marco Civil da Internet, surgiu em meio a discussão sobre excessos e lacunas na lei. Esse caso da Costa Sul de São Sebastião suscita um debate instigante, que creio que deva ganhar a nossa sociedade. Até que ponto estamos sendo tão responsáveis com o que publicamos? Cabe a reflexão, a crítica, a análise, a discussão.
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20h56min.    -     adelsonpimenta@ig.com.br

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