ANTONIO CARLOS E A RENÚNCIA


O prefeito de Caraguá, o tucano Antonio Carlos, veterano em campo, aturdiu a tarde de um dia com seu discurso de possível renúncia - "em caráter irreversível". Este foi o lustre. Pronto, foi o que bastou para que algumas redações jornalísticas apressadas se antecipassem à própria lei dando ao Presidente da Câmara, Neto Bota, a prerrogativa de inclusive "chamar" nova eleição, conforme matéria do jornal Imprensa Livre. Imagino que em suas salas reservadas, tanto o prefeito quanto o Juiz Eleitoral da cidade tenham se perguntado: O quê? Enfim, passou. No raiar do dia seguinte, o alcaide deixou o dito pelo não dito, nada de renúncia, já que fumou o cachimbo da paz com o Governo do Estado.

Veja, renúncia é ato pessoal, não político. O eleitor não elege um mandatário para que este renuncie ao mandato do partido pelo qual foi eleito para ser gestor; essa, portanto, é uma decisão de foro íntimo. "Irreversível" é a mãe. Nada disso, discurso é uma coisa, as vezes até um ato falho; quem sabe um instrumento de dica; uma mensagem sob pressão; um balizamento, um ensaio ou coisas assim, mas nunca um ponto final. Quem sabe seja a deixa. 

Sabe-se que Antonio Carlos vive um grande dilema. A cidade que governa teve um salto importante de infraestrutura urbana, graças, principalmente, ao fato de sê-lo um gestor que se aproveita como poucos do fato de pertencer ao mesmo partido do governador do estado. Deixará um legado quando sair de cena, se sair. É inegável. Mas, sob a sua batuta e rompantes, não fosse o fato de haver no Estado alguém com visão política menos açodada, maiores seriam os problemas eleitorais do governador na região. 

Antonio Carlos se relaciona com extrema dificuldade com os demais prefeitos das cidades da região, perdeu as frentes que ensaiou encampar em organismos bilaterais, ficou isolado na RM Vale - no capítulo do Litoral Norte, sofre o desgaste natural de tantos anos no poder local, tem uma gestão que sofre pesados questionamentos sociais - principalmente na saúde pública, sofre derrotas significativas na Justiça, enfim, seu momento não é dos melhores. Não falo de balizamentos estatísticos, porque esta é uma outra leitura.

Quando anunciou que renunciaria em 90 dias, sequer deu a autonomia para que seu filho dissesse o mesmo, falando pelos dois.  Qual será o receio: O de ser cassado pela Justiça, talvez? Neste caso, de perder a gordura política para bancar um sucessor, já que se for ejetado do cargo dessa forma perde o lastro e o discurso. Quem sabe a desassistência do Governo do estado, como vinha obtendo bons resultados todos este anos? Especula-se, por exemplo, que o Hospital Regional teria sido anunciado para a cidade de Caraguá, mesmo com os demais prefeitos concordando que fosse em São Sebastião, mais por pressão partidária que por articulação institucional. Ao que parece, o ânimo do Estado mudou em relação ao assunto, e isso teria levado o prefeito de Caraguá ao extremo de seu discurso.

Enfim, como trata-se de alguém experimentado na vida pública e vencedor em sua trajetória política, há de se supor que há uma estratégia por trás disso tudo, que cabe aos seus aliados dar eco e ênfase, cada um cumprindo com o seu quinhão definido no processo. Aos seus adversários cabe a leitura e a desconstrução.
É o jogo!

Foto: Google/TV Ancoradouro
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18h26min.    -    adelsonpimenta@ig.com.br

Comentários

  1. Realmente, um fato tão relevante quanto a renúncia de um prefeito, se não for muito bem justificado, gera muita especulação. A primeira idéia que vem à mente da maioria das pessoas, é de envolvimento em corrupção e risco de processo e cassação de mandato. Outra ideia plausível, é por questão de saúde. Claro que podem haver outras razões e justificativas, como estresse, questões familiares, entre outras. Como o Adelson bem colocou: "é uma questão de foro íntimo". A nós, cabe apenas esperar os desdobramentos dessa declaração.

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